Foto: Dado Ruvic/Reuters “Pais denunciam TikTok na justiça dos EUA por desafio que causou morte de meninas”. Denúncia apresentada em Los Angeles (2022) pelos pais das crianças, responsabilizando o aplicativo pela morte de Lalani Walton, 8 anos, e Arriani Arroyo, 9 anos. O desafio do apagão ou desmaio, sugere que a criança deve se sufocar até desmaiar — Blackout Challenge. Crianças morreram vítimas desse desafio na Itália, Austrália, Argentina e demais países ao redor do mundo. “O Desafio do salto de barco do TikTok é responsável por quatro mortes nos EUA”. As vítimas tiveram seus pescoços quebrados no momento do impacto, resultando em morte instantânea. “Jovem de 13 anos morre após ingerir muitos comprimidos de anti-histamínicos no Desafio Benadryl do TikTok”. Jacob Stevens não resistiu à overdose medicamentosa — teve convulsões enquanto era filmado pelos amigos. O TikTok já provocou a morte, através dos desafios, de crianças no Brasil e no mundo. Inclusive, já sabemos de casos aqui em Natal. O assustador é que esse aplicativo, que pode ser uma péssima companhia, frequenta a nossa casa e ainda fica sozinho com nossos filhos. É a distração às custas da educação, dos esportes e da socialização. É a troca cômoda da vida real pela virtual, onde os valores são distorcidos e a irracionalidade parece não ter limites. Resultando muitas vezes em insônia, depressão, ansiedade, automutilação e morte acidental ligada ao desafio. Em janeiro de 2021, A Itália bloqueou temporariamente o acesso ao TikTok para usuários cuja idade não é garantida, após a morte de uma menina que participou do desafio do apagão. É difícil para uma criança resistir aos elaborados algoritmos. Para ter uma ideia da força do aplicativo, segundo o The Washington Post, o TikTok é o aplicativo líder em downloads até 2022 e tem cerca de 150 milhões de usuários nos EUA. Em 2021, o site foi mais visitado que o Google e 2/3 dos adolescentes americanos usam. Um relatório da Bernstein Research descobriu que, entre 2018 e 2021, o tempo que os americanos passaram no aplicativo aumentou 67%, enquanto as horas no Facebook e no YouTube cresceram menos de 10%. Se para nós, adultos, resistir ao vício não é fácil, e para uma criança? Vamos conhecer agora alguns dos desafios absurdos encontrados no TikTok. The Kya Boyz – O jovem deve roubar um carro, cometer crimes, filmar tudo e compartilhar; Desafio Coronavirus – A criança deveria lamber algo estúpido como uma tampa de sanitário de um avião; O Desafio do centavo incentivava as crianças a conectarem parcialmente seus carregadores a uma tomada e, em seguida, colocar um centavo naquele pequeno espaço entre a tomada e o carregador. O resultado foi incêndios e diversos acidentes; Desafio Benadryl consistia em tomar a quantidade máxima dos comprimidos deste anti-histamínico. Muitas pessoas terminaram na UTI ou mortas; A Índia proibiu a plataforma em meados de 2020. Outros países como Grã-Bretanha, Austrália, Canadá, França e Nova Zelândia já proibiram o aplicativo de dispositivos oficiais. Até o Afeganistão, dirigido pelo Talibã, emitiu uma proibição do TikTok. Além disso, existe a preocupação que a China utilize esses dados para desinformação em massa. — Por que o TikTok faz tanto sucesso? A maioria dos psicólogos caracteriza o aplicativo como grande fornecedor de dopamina, a substância química secretada no cérebro quando se espera uma recompensa, como comida, drogas ou sexo. Qualquer coisa que nos conecte aos outros desencadeia essa sensação de prazer, porque é uma resposta evolutiva — sobrevivemos melhor em grupos do que em indivíduos. Os aplicativos de mídia social capitalizam esse mecanismo de sobrevivência para obter lucro. E o TikTok fornece esse golpe de dopamina talvez mais rápido, melhor e mais prazeroso do que outros aplicativos populares. Jonathan Haidt, psicólogo social e professor da New York University, se tornou famoso como crítico das mídias sociais. Haidt argumenta que a ascensão das mídias sociais e seu sistema de recompensa (os likes) estão intimamente correlacionados com declínios surpreendentes na saúde mental dos adolescentes. Por volta de 2012, ele lembra que começamos a ver todos os tipos de indicações de declínio da saúde mental, desde sentimentos depressivos até hospitalizações e tentativas de suicídio. Ele diz que isso aconteceu nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá e vários outros países com uso generalizado de mídias sociais. — Com quem seu filho tem andado? — Com o TikTok! Uma análise do Canadian Journal of Psychiatry sobre os vídeos do TikTok sobre TDAH descobriu que mais da metade era enganosa. O jornal defende que a idade em que as empresas de mídia social podem coletar dados de crianças sem o consentimento dos pais deve ser aumentada de 13 para 16 anos, protegendo assim os anos mais vulneráveis do início da puberdade. Um estudo do Center for Countering Digital Hate descobriu que, quando os pesquisadores se apresentavam como usuários de 13 anos e curtiam ou pesquisavam vídeos relacionados à saúde mental, recebiam conteúdo potencialmente prejudicial — Incluindo transtornos alimentares e automutilação. Já pensou? A quantidade de informação absurda que nossas crianças podem estar recebendo? O jornal The Independent afirma que o formato de vídeos curtos do TikTok foi associado à diminuição da capacidade de atenção quando o aplicativo é usado por mais de 90 minutos por dia. O problema se tornou tão grave que o TikTok foi forçado a agir. A empresa contratou grandes influenciadores americanos em 2022, incluindo Gabe Erwin, Alan Chikin Chow, James Henry e Cosette Rinab, para pedir aos usuários que fizessem pausas e criou avisos pop-up para incentivar os usuários a parar de assistir os vídeos — Hipocrisia que chama? Desafios de mídia social não são novidade. Muitos deles são divertidos e muitas vezes arrecadam dinheiro para uma boa causa. Quem poderia esquecer clássicos como o “desafio do balde de gelo”? No entanto, alguns deles se desviam para um território perigoso, com as pessoas se colocando em posições vulneráveis (como no topo de arranha-céus ou em trilhos de trem) apenas para pegar imagens para postar. O TikTok levou a ideia de desafios perigosos a novos extremos. Este foi o primeiro artigo que fiz sem tê-lo escrito. Na verdade, ele estava separado em diversas matérias que pesquisei para trazer mais informação sobre este assunto tão relevante. Tudo que fiz foi selecionar, organizar e redigir alguns parágrafos. Porém, antes de terminar, gostaria de propor um desafio. Inclusive, a mim também. É o Desafio dos Pais — devemos passar mais tempo com nossos filhos, compartilhando momentos inesquecíveis e insubstituíveis de amor e carinho — curtindo todas as suas fases. É lógico que existe o algoritmo da vida. Quanto mais nos aproximarmos dos filhos, mais eles irão aparecer em nossas vidas. Curta almoçar com eles, curta passear na companhia deles, curtam cada instante. Curioso como tantas pessoas se ressentem dos filhos por se distanciarem quando adultos, mas nunca mostraram para o algoritmo da vida que eles são o seu assunto de maior interesse. Siga, curta e compartilhe a vida ao lado das suas crianças. Sabemos que a tecnologia traz inúmeros benefícios, mas devemos redobrar a atenção com nossos filhos quanto aos perigos comprovados dessas plataformas digitais — Um tic-tac pode estar começando toda vez que seu filho usa o TikTok. Marcus Aragão @aragao01