A tensão interna dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) se intensificou na última semana depois do bate-boca público entre a presidente da sigla, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. O desentendimento teve como pano de fundo o resultado do PT nas eleições municipais.
O episódio escancarou a divergência sobre a estratégia de comando do partido e as desavenças diante da atuação dos membros da Esplanada dos Ministérios.
Levantamento do Metrópoles indica que o PT conquistou 252 prefeituras, dos 5.520 municípios que tiveram os resultados das urnas eletrônicas oficializados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), considerando o primeiro e o segundo turno.
Na segunda-feira (28/10), logo após o segundo turno das eleições municipais, a presidente do PT indicou que o partido sofre com uma crise política desde 2013, que resultou no impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).
“Uma crise que ainda tem seus efeitos hoje, embora já tenha arrefecido um pouco o que foi em 2020, quando tinha muito mais ação contrária à nossa liderança, inclusive de violência física. Ainda assim, a gente sente muito essa desconstrução do partido. Por isso que, na nossa avaliação, há um processo de reconstrução do partido nas eleições municipais”, indicou Gleisi.
A deputada federal pelo Paraná foi eleita para presidente do PT em 2017, ao conquistar 62% dos votos dos delegados do partido. Em segundo lugar ficou Lindbergh Farias (RJ), com 38% dos delegados.
Sem citar a gestão de Gleisi, Padilha afirmou que o PT está no “Z4” nas eleições municipais desde 2016, ao fazer alusão à zona de rebaixamento do campeonato brasileiro.
“Desde 2016, o PT entrou no fim da tabela do Z-4 das eleições municipais. Mesmo com os avanços que teve hoje, não saiu ainda dessa posição de fim da tabela. Foi o terceiro partido que mais cresceu em número de prefeituras, terceiro que mais aumentou população governada, aumentou muito número de votos para prefeito e vereadores, mas não saiu ainda dessa situação”, disse.
A declaração do ministro das Relações Institucionais não repercutiu bem dentro do partido que, inclusive, realizava uma reunião na Executiva Nacional para discutir os resultados das eleições municipais.
“Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados. Mais respeito com o partido que lutou por Lula Livre e Lula Presidente, quando poucos acreditavam”, escreveu Gleisi no X.
O Metrópoles conversou com membros do partido que estiveram na reunião da Executiva e elencaram que um dos pontos negativos nas eleições municipais foi a dificuldade de comunicação dentro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um dos principais atritos foi a dificuldade de comunicar a população sobre as entregas feitas pela gestão petista, como as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida.
Comunicação
Para interlocutores, a dificuldade de informar a população sobre as benfeitorias realizadas pelo Executivo federal atrapalham na promoção de candidatos petistas, que poderiam utilizar a imagem do governo Lula como trampolim político.
A jornalistas, Gleisi indicou que ter a máquina federal não garante vitória nas eleições municipais, mas o impasse no momento de entrega poderia auxiliar na construção de candidaturas para prefeitos.
“É óbvio que, por ter a presidência da República, havia uma expectativa do PT ter números maiores do que tem. Eu diria que até uma expectativa mais externa do que interna. Mas havia essa expectativa. E isso mostra que o fato de você ter o governo federal não quer dizer que você vai ter vitórias nas eleições municipais. Assim como você ter a maioria dos prefeitos nos municípios não significa que você vai ser derrotado nas eleições nacionais”, enfatizou a presidente do PT.
Vale destacar que Lula venceu o pleito nacional em um momento de fraqueza do PT nas disputas municipais.
Desde o embate público entre Gleisi e Padilha, o ministro das Relações Institucionais não fez mais manifestações públicas.
Toda a discussão tem como plano de fundo a sucessão de Gleisi Hoffmann. O pleito está previsto para os primeiros meses do ano que vem, mas até lá há muita discussão de um possível novo presidente do PT vindo do Nordeste, para construção de uma tática para conquistar mais cargos em 2026.
Fonte: Metrópoles