Há muitas razões para encarar com ceticismo —e como oportunismo político— o anúncio de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, nesta terça-feira (7). O próprio Zuckerberg frequentemente defendeu e até impôs o tipo exato de censura política online que condenou.
A primeira vez que relatei a censura das big techs foi ao documentar em 2016 a estreita relação do Facebook com o governo israelense. A plataforma aprovava mais de 95% dos pedidos de censura contra jornalistas e ativistas palestinos. Pouco antes da eleição de 2020 nos EUA, o Facebook suprimiu reportagens que desfavoreciam Joe Biden.
Em 2021, o Facebook baniu o então presidente Donald Trump de sua plataforma por dois anos. Durante a pandemia, a empresa removeu uma ampla gama de opiniões divergentes das ortodoxias sobre a Covid-19, a pedido do governo Biden —incluindo visões que o próprio Zuckerberg mais tarde admitiu serem "debatíveis" ou "até verdadeiras".
Independentemente das motivações, há um ponto em que Zuckerberg está inegavelmente correto. Em uma declaração amplamente entendida como direcionada ao Brasil e ao STF, o fundador do Facebook afirmou que "países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que empresas removam conteúdos de maneira silenciosa".
O motivo pelo qual esse comentário foi associado ao Brasil é simples: isso acontece no Brasil. Ironicamente, os mesmos grandes veículos de mídia e autoridades governamentais que protestaram contra a nova política da Meta, alertando sobre os perigos da "desinformação" —e insistindo que só eles podem definir a verdade— espalharam desinformação em resposta.
Eles acusaram Zuckerberg de fazer tal afirmação sobre o Brasil "sem evidências". A verdade é exatamente o oposto: as evidências são claras e abundantes.
Em abril passado, este jornal publicou um editorial com o título: "Censura promovida por Moraes tem de acabar". O texto alertava sobre exatamente o que Zuckerberg apontou ontem: "Ordens secretas de Alexandre de Moraes proíbem cidadãos de se expressarem em redes sociais". E acrescentava: "O secretismo dessas decisões impede a sociedade de escrutinar a leitura muito particular do texto constitucional que as embasa".
Fonte: Folha de S. Paulo