Brasileira radicada na França acusa museu de antissemitismo e rompe apoio depois de 15 anos

Foto: Divulgação/Palais de Tokyo
Foto: Divulgação/Palais de Tokyo
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29/05/2024 12:42 | 4 min de leitura


Sandra Hegedüs, colecionadora de arte brasileira radicada na França, anunciou, em 5 de maio, seu desligamento do Conselho de Administração dos Amigos do Palais de Tokyo — museu japonês em Paris. A decisão foi comunicada em um post no Instagram, onde criticou a exposição “Passé Inquiet: Musées, Exil et Solidarité”, considerada por ela antissemita.

A exposição, que aborda a história do conflito entre Israel e Hamas, foi considerada por Sandra como “tendenciosa, mentirosa e vergonhosa”, além de “antissemita”. Ela afirmou que a mostra “aborda história do conflito entre Israel e Hamas, dando voz, sem contradição, a comentários racistas e violentos”. A publicação de Sandra rapidamente ultrapassou 13 mil curtidas e gerou mais de 500 comentários.

Sandra Hegedüs, chamada de “tornado brasileiro” pelo jornal francês Le Monde, vive em Paris há mais de 30 anos. Em 2009, fundou a SAM Art Projects, uma organização sem fins lucrativos para promover artistas fora do eixo Europa-Estados Unidos. A fundação já impulsionou a carreira de mais de 30 artistas, incluindo os brasileiros Henrique Oliveira e Rodrigo Braga.

A parceria de Sandra com o Palais de Tokyo durou 15 anos, durante os quais ela organizou um concurso anual que premiava artistas com uma temporada de três meses em Paris e um cheque de € 20 mil (R$ 112 mil).

Porém, a relação começou a se deteriorar depois da chegada do novo presidente do museu, Guillaume Désanges, que retirou o evento da programação alegando preocupações ambientais.

A polêmica em torno da exposição reacendeu o debate sobre os limites da criação artística. Leonardo Tonus, professor na Sorbonne Nouvelle, afirmou que “é papel das instituições culturais manter-se em fricção com o mundo, inquietar as pessoas”. Ele vê o episódio como um confronto entre uma “posição ideológica individual e o interesse coletivo pela liberdade de expressão”.

Sandra, que não visitou a exposição pessoalmente, formou sua opinião depois de uma visita virtual conduzida por seu namorado. Ela afirmou que a exposição faz “uma incitação ao ódio e à eliminação dos judeus”.

Museu defendeu a amostra considerada antissemita
O Palais de Tokyo, por sua vez, defendeu a mostra como um reflexo das preocupações dos artistas e reforçou a presença de mediadores para esclarecer dúvidas dos visitantes.

A Associação Francesa de Desenvolvimento dos Centros de Arte Contemporânea publicou uma carta no Le Monde em apoio ao Palais de Tokyo e à “liberdade de programação”. A instituição denunciou supostas “tentativas de intimidação” e “apelos à censura”. Organizações como a Fondation Cartier e o Museu Reina Sofía assinaram a carta.

Fonte: Revista Oeste

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