Alunos que fazem a prova do Enem no Recife apontaram a adoção do novo ensino médio como um dos desafios para se preparar para o exame, principal porta de entrada para o ensino superior no país. Neste domingo (10), os candidatos respondem a questões de matemática e ciências da natureza.
Aline Guedes, de 17 anos, vai tentar uma vaga no curso de análise de sistemas, mas disse que as expectativas estão baixas por causa do atual modelo do ensino médio.
“A prova de linguagens e de humanas tinha muita filosofia, muita sociologia, e foi justamente as matérias que cortaram no ensino médio, que a gente não tinha aula. A minha sorte é que como eu estava na área de exatas na escola, eu tinha mais aulas de matemática, enquanto os outros não tinham”, contou a jovem.
A recifense Evelyn Arruda, de 17 anos, também disse ter se sentido prejudicada pelo modelo do novo ensino médio. “Foi muito melhor dar uma desistida das trilhas (de aprendizagem) e focar mais, estudar mais para o Enem”, afirmou a adolescente, que quer cursar odontologia.
Evelyn, que já fez o Enem de forma experimental no ano passado, disse que a experiência a tranquilizou para a prova deste ano. “Vai ser mais fácil gerenciar o meu tempo, não perder tanto tempo em questões que eu não entendo”, explicou.
O sentimento é parecido com o de Felipe Albuquerque, de 25 anos, que já fez o exame algumas vezes, mas tenta novamente entrar no curso de medicina de uma universidade pública — atualmente, ele faz o primeiro período do curso numa faculdade particular.
“Acho que se a gente for fazer a prova com a cabeça muito nervosa, muito quente, inclusive o que a gente sabe, a gente esquece na hora. Então a gente tem que fazer bem, confiando no que a gente sabe”, disse o rapaz, antes de entrar no prédio.
Em Pernambuco, mais de 275 mil pessoas se inscreveram para fazer o exame em 2024.
O que é o novo ensino médio?
O novo modelo de ensino médio, que começou a ser implementado em 2022, aumentou a carga horária de disciplinas obrigatórias, como português e matemática, e um reduziu o que foi considerado uma parte optativa do currículo.
Desde 2023, cada estudante passou a poder montar seu próprio ensino médio, escolhendo as áreas nas quais se aprofundará. A intenção é que os três anos do currículo tenham conteúdos eletivos (1.200 horas focadas nos objetivos pessoais e profissionais dos alunos) mais a parte fixa (1.800 horas de ciências da natureza, ciências humanas, linguagens e matemática).
O novo modelo é obrigatório e deve ser seguido por todas as escolas do país, públicas e privadas.
A lei determina um aumento progressivo da carga horária. No modelo anterior, eram, no mínimo, 800 horas-aula por ano (total de 2.400 no ensino médio inteiro). No novo modelo, a carga deve chegar a 3.000 horas ao final dos três anos.
As disciplinas tradicionais passaram a ser agrupadas em áreas do conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas).
A alteração também colocou a possibilidade de os alunos escolherem disciplinas optativas durante o período de formação e deu uma flexibilidade maior para a grade curricular dos cursos técnicos - nos quais as disciplinas eletivas podem ocupar uma fatia maior da carga horária de aulas.
As mudanças têm provocado um debate sobre as desigualdades que o novo modelo possibilita entre alunos de escolas particulares e públicas quanto a amplitude dos assuntos estudados e sobre as diferenças no aprendizado que podem afetar também o desempenho no ensino superior.
Fonte: g1