O jornal Washington Post (EUA) e a revista Economist (Reino Unido), veículos de mídia liberais em relação à economia, publicaram editorais nesta semana com críticas à suspensão do X (ex-Twitter) no Brasil.
As duas publicações apontam o que consideram impróprio na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Argumentam que a supressão da rede social para todos os brasileiros foi uma atitude excessiva.
O Washington Post, jornal norte-americano de propriedade de Jeff Bezos, dono da Amazon, fez a publicação na sua edição on-line na 4ª feira (4.set.2024) e depois, nesta 5ª feira, na versão impressa, com o título: “In this free speech fight, Musk’s X has marked the right” (“Nessa luta pela liberdade de expressão, o X de Musk marcou o lado certo”).
No editorial, o Post afirma que Elon Musk, dono do X, tende a “falar mais do que agir” em questões relacionadas à liberdade de expressão, mas que, no caso envolvendo o Brasil, o bilionário “está conseguindo fazer ambos”.
“Isso não significa que Musk tenha êxito em seus objetivos pelos meios mais práticos ou éticos. Suas postagens são frequentemente inflamatórias”, afirmou o veículo.
No texto, o jornal classifica como “autoritário” o bloqueio da rede social “para todos os 220 milhões de brasileiros que poderiam receber multas de quase US$ 9.000 [R$ 50.000] por dia se tentassem contornar a restrição”.
“Seja qual for a ameaça representada pelas contas que Moraes queria remover, a decisão de um funcionário do governo de limitar a expressão de 220 milhões de pessoas representa uma intimidação ainda maior. Somada à decisão de Moraes de congelar os ativos da Starlink, outra empresa de Musk, essa medida alinha o Brasil não com o mundo livre, mas com países como China e Rússia”, afirma o Post.
Segundo o jornal norte-americano, “os brasileiros não deveriam ter de tolerar um governo que suprime pontos de vista políticos, por mais repugnantes que um tribunal possa considerar que essas opiniões sejam”.
O Post defende ainda o direito de Musk “de expressar sua opinião e de ter o devido processo legal”.
O jornal também classifica como “demagógico” o comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o caso. O petista afirmou que a decisão de Moraes “pode ter dado um importante sinal de que o mundo não precisa tolerar o vale-tudo da extrema-direita de Musk só porque ele é rico”.
De acordo com o veículo de Washington, a fala de Lula “reflete mal na vocação democrática” do presidente que foi “legitimamente eleito” nas eleições de 2022: “Esse caso está se transformando em uma lição para as democracias que acreditam que a resposta para expressões problemáticas na internet seja suprimi-las”.
ECONOMIST
A revista Economistpublicou seu editorial na 3ª feira (3.set) com este título: “As Brazil bans Elon Musk’s X, who will speak up for free speech?” (“Se o Brasil proíbe o X de Elon Musk, quem defenderá a liberdade de expressão?”).
A publicação britânica questiona o bloqueio da rede social no Brasil. Cita as ações dos governos de outros países, como a tentativa dos EUA de banir o TikTok e a investigação em andamento da França contra o CEO do Telegram, Pavel Durov, como exemplos de repressão.
Em relação ao debate sobre a liberdade de expressão, a revista britânica defende sua posição de maneira clara: “Só com a liberdade de estar errado, as sociedades podem avançar lentamente em direção ao que é certo”.
Para a revista, a liberdade de expressão vem se tornando um “campo de batalha da guerra cultural” e aqueles que discordam da política do bilionário e de seus aliados “ficaram mais confortáveis” para agir contra esse direito fundamental.
A Economist diz que as “restrições afetam todos os que usam plataformas on-line, não somente os bilionários que são donos delas”.
Apesar de se manifestar contra medidas semelhantes à adotada no Brasil, a Economist também faz críticas a Elon Musk. Afirma que o bilionário é um “libertário de conveniência” e que a liberdade de expressão “dificilmente está segura nas mãos de” pessoas como ele.
Segundo a publicação, o dono do X “processa aqueles com quem discorda, proíbe palavras que não gosta em sua plataforma e é cordial” com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, “cujo método favorito de moderação de conteúdo é o novichok”, substância neurotóxica desenvolvida pela União Soviética nas décadas de 1970 e 1980 contra adversários políticos.
“A capacidade de falar livremente é talvez o valor liberal essencial. É hora de os verdadeiros liberais se manifestarem e defendê-la”, diz a Economist.
Fonte: Poder 360