Judeus bolsonaristas revelam divisão interna na CONIB

Reprodução Blog do Esmael
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25/11/2024 10:23 | 6 min de leitura


A Confederação Israelita do Brasil (CONIB) vive uma crise interna marcada por divisões entre direita, bolsonaristas e setores mais “esquerdistas” da comunidade judaica. A ausência do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Fabio Wajngarten no recente jantar promovido pela entidade não passou despercebida e gerou protestos de empresários ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que acusam o presidente da CONIB, Claudio Lottenberg, de escantear lideranças conservadoras.

Lottenberg, que já foi presidente do Hospital Albert Einstein e comanda a United Health no Brasil, é alvo de críticas por sua postura considerada “oportunista e individualista”. Durante anos, ele teria tentado ocupar cargos em diferentes governos — sem sucesso. Procurou espaço na gestão Lula, Dilma, Bolsonaro e, mais recentemente, vem se aproximando de figuras como Rodrigo Pacheco e Gilberto Kassab, ambos do PSD, em busca de apoio político.

Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secom, e o empresário Meyer Nigri, fundador da Tecnisa, lideram o coro de descontentes contra Lottenberg. Ambos têm promovido encontros de Bolsonaro com integrantes da comunidade judaica, em uma tentativa de contrabalançar a influência da CONIB, que, segundo eles, não reflete a realidade da maioria dos judeus no Brasil. Em 2018, por exemplo, Nigri chegou a afirmar que “90% da comunidade judaica apoia Bolsonaro”.

Na época, Lottenberg rebateu as acusações e defendeu a pluralidade da entidade ao refutar apoio a Bolsonaro. Em entrevista, afirmou que Nigri “não tem legitimidade para falar pela comunidade”, classificando-o como “apenas um cabo eleitoral”. Para Lottenberg, a CONIB não pode ser atrelada a um único grupo político, muito menos aos extremos. “A comunidade judaica nunca apoiará quem promove a segregação. Nós pagamos caro por isso ao longo da história”, destacou. Ou seja: a guerra intestina na CONIB é antiga.

Claudio Lottenberg acumula uma longa trajetória de articulações políticas que não renderam frutos. Durante a pandemia, ele buscou substituir Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde, mas foi preterido pelo governo Bolsonaro, que o considerava próximo ao então governador de São Paulo, João Doria. No passado, também tentou se aproximar de Lula e Dilma, sem sucesso.

Essa postura gerou desconfiança entre setores da comunidade judaica, que enxergam em Lottenberg um líder mais preocupado com interesses pessoais do que com as demandas coletivas. Para críticos, a atuação dele na CONIB tem sido marcada por decisões que priorizam a política pessoal em detrimento da representatividade.

A crise dentro da CONIB expõe as tensões entre diferentes correntes ideológicas dentro da comunidade judaica no Brasil. Enquanto bolsonaristas acusam a entidade de “puxar para a esquerda”. Para Lottenberg, a função da CONIB é abrir espaço para todos os candidatos, sem favorecimentos. “A democracia depende do diálogo, e nossa comunidade é plural. Não podemos nos alinhar a um só espectro político”, afirmou.

No entanto, a crescente aproximação de Lottenberg com figuras do PSD, como Kassab e Pacheco, levanta suspeitas de que ele esteja usando a entidade como trampolim político. “Ele não se elegeria nem para síndico de prédio”, ironizou um empresário insatisfeito, revelando a temperatura elevada na comunidade judaica.

A divisão na CONIB reflete um cenário mais amplo de polarização no Brasil, onde até mesmo grupos historicamente unidos enfrentam rachaduras ideológicas. Para muitos judeus bolsonaristas, a entidade perdeu a capacidade de representar os anseios da comunidade, tornando-se refém de lideranças que priorizam interesses pessoais.

Enquanto isso, Claudio Lottenberg segue tentando equilibrar-se na corda bamba ante o bombardeio bolsonarista. Resta saber se sua liderança conseguirá sobreviver às crescentes pressões internas e externas. Afinal, como dizem alguns membros da comunidade ligados a Bolsonaro, “a CONIB não é um espaço para projetos pessoais, mas para a defesa coletiva”.

Em um contexto de racha, a maioria dos judeus exige que Lottenberg decida se continuará insistindo em sua ambição política ou se ouvirá o clamor da comunidade que o colocou na posição de liderança. O tempo dirá se ele será lembrado como um unificador ou como o pivô de uma das maiores crises já enfrentadas pela entidade. No entanto, se depender do grupo bolsonarista, haverá disputa pelo comando da CONIB em breve. A conferir.

Fonte: Blog do Esmael

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