Os “frequentes ataques demagógicos” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central (BC) e aos juros criam o temor de que haverá maior tolerância com a inflação a partir da troca de comando da autarquia. É o que afirma o jornal Folha de S.Paulo, em seu editorial desta quarta-feira, 7.
O órgão autônomo deu uma importante indicação na ata da reunião da semana passada de seu Comitê de Política Monetária (Copom), quando se decidiu manter a Selic, em 10,50% ao ano.
“O comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, afirma o documento, divulgado nesta terça-feira, 6.
Segundo a Folha, a possibilidade de elevar os juros é, por si só, uma má notícia, com riscos para a atividade econômica, o emprego e o endividamento público e privado. “Dado o contexto, porém, é bem-vinda a mostra de compromisso da autoridade monetária com o controle da inflação”, diz o jornal.
A unanimidade destacada no texto é uma informação fundamental. Para a publicação, ela significa que os quatro diretores indicados por Lula acompanharam os outros cinco membros do comitê na “disposição anunciada de fazer o necessário, mesmo que à custa de sacrifícios, para manter o poder de compra da moeda”.
Até o final do ano, o petista vai indicar mais dois nomes para o colegiado — ou seja, em menos de cinco meses, seus escolhidos serão maioria na cúpula do BC.
Cenário externo escancara perigos da imprudência de Lula
O cenário econômico tem se mostrado mais adverso do que o esperado, o que dificulta o abrandamento da política monetária. Juros americanos acima da expectativa levaram à alta do dólar, que deixa os produtos importados mais caros e pressiona os preços no cenário doméstico.
“Tais circunstâncias escancararam os perigos da imprudência orçamentária de Lula, que contribuiu para uma desvalorização do real mais aguda que a da maioria das moedas mundiais”, diz a Folha. “Só recentemente o governo petista tomou providências, ainda tímidas, para conter a escalada do gasto público.”
Com retórica mais incisiva, a ata do Copom listou esses perigos domésticos e externos para o controle da inflação — que, pelas projeções da entidade, estão em 4,2% neste ano e 3,6% em 2025, acima, portanto, da meta de 3%.
Para o jornal, Lula deveria ajudar a si próprio com medidas mais fortes na área fiscal e indicações de sólida reputação para o BC. “Como resta mais da metade do mandato presidencial pela frente, talvez os riscos de agora inspirem maior prudência”, avalia o veículo.
Fonte: Revista Oeste