O golpe que Bolsonaro sofreu, com direito a sabotagem internacional, que nunca foi investigado

El País
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01/12/2024 10:22 | 6 min de leitura


Nos últimos anos, uma revelação do jornalista Jamil Chade trouxe à luz uma trama que parece saída de um thriller político: uma rede de diplomacia brasileira operando para minar o governo de Jair Bolsonaro. Este esquema, que pode ser visto como um golpe de Estado de cunho diplomático, mereceria uma análise detalhada, mas até hoje permanece sem investigação oficial.

A Sabotagem Diplomática

Durante os quatro anos de governo Bolsonaro, diplomatas do alto escalão do Itamaraty adotaram uma estratégia de "contenção de danos", segundo relatos. Esta abordagem incluía evitar marcar reuniões com líderes internacionais durante grandes cúpulas, limitando assim a participação de Bolsonaro em eventos globais. A ideia dos diplomatas envolvidos era isolar Bolsonaro e evitar situações constrangedoras para eles, principalmente em questões ideológicas já que a maioria dos diplomatas atuam para fortalecer o campo progressista.

A revista Veja destacou que em eventos multilaterais, como a cúpula do G20 em Roma em 2021, Bolsonaro foi deixado em uma posição de isolamento, sem a oportunidade de interagir significativamente com outros líderes mundiais. Esta prática de isolamento diplomático poderia ser interpretada como uma forma de sabotagem, uma vez que reduzia a influência e a presença do Brasil na arena internacional.

Legalidade e Alta Traição

Do ponto de vista legal, as ações de diplomatas que potencialmente prejudicam a imagem ou os interesses do Estado brasileiro poderiam ser vistas sob a lente de "alta traição" ou outros crimes relacionados à segurança nacional. No entanto, diplomatas gozam de imunidades que complicam a aplicação direta de leis nacionais sobre suas ações internacionais. A legislação brasileira, através do Código Penal, aborda crimes contra o Estado, mas a aplicação prática em diplomatas requer um manuseio delicado devido às convenções internacionais, como as de Viena.

Impactos e Implicações

O boicote diplomático não apenas afetou a imagem de Bolsonaro, mas também pode ter tido repercussões econômicas e geopolíticas para o Brasil. A falta de engajamento em diálogos internacionais pode ter resultado em acordos comerciais não fechados, apoio internacional diminuído em fóruns globais, e uma percepção de isolamento que, por sua vez, impacta a credibilidade do país em negociações futuras.

A Falta de Investigação

Surpreendentemente, apesar da gravidade das acusações e o potencial impacto sobre a soberania e a política externa do Brasil, não houve uma investigação formal ou uma resposta institucional equivalente a esta suposta sabotagem interna. Isso levanta questões sobre a transparência e a responsabilidade dentro do Itamaraty, e se tais práticas poderiam ter se enraizado sem um mecanismo de controle ou fiscalização adequado.

Este caso serve como um lembrete da necessidade de uma diplomacia transparente e alinhada com os interesses nacionais, independentemente de quem esteja no poder. A ausência de uma investigação oficial não apenas deixa em suspenso a questão da responsabilidade, mas também pode encorajar comportamentos similares no futuro, onde diplomatas se sentem acima da lei ou das políticas do governo eleito.

É crucial que o Brasil desenvolva mecanismos para garantir que sua política externa seja conduzida com integridade e que os interesses nacionais sejam sempre priorizados, independentemente das simpatias políticas dos servidores diplomáticos. A história de Jair Bolsonaro com a sabotagem diplomática, embora não oficialmente reconhecida, permanece como um capítulo não resolvido na história recente do Brasil, esperando por uma análise justa e completa.

Por Júnior Melo

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