Furacão Beryl quebra recordes como novo extremo climático e acende alerta sobre o futuro, afirma especialista

Foto: CIRA_CSU
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04/07/2024 15:01 | 8 min de leitura


O furacão Beryl fez mais que destruir tudo o que estava em seu caminho. Ele fez em pedaços muito do que se pensava sobre furacões e acendeu o alerta de que o pior pode ainda estar por vir. Beryl detonou os parâmetros para intensificação, a época de formação e lugar de origem de furacões de uma só vez. Para especialistas, é só um prenúncio da ferocidade da temporada de furacões deste ano e se soma à lista de extremos climáticos de 2024, que mal completou o primeiro mês.

“Beryl está reescrevendo os livros de meteorologia da pior forma possível”, disse em redes sociais Eric Blake, conhecido especialista do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC, na sigla em inglês).

Blake está entre os muitos cientistas que consideram provável que ele seja só o primeiro de uma série de tempestades bizarras e devastadoras neste ano. A temporada de furacões do Atlântico Norte começou em 1 de junho e vai até 30 de novembro.

Em nota, a Organização Mundial de Meteorologia (OMM) disse que “Beryl estabelece um precedente do que pode vir a ser a temperada de furacões deste ano”. Barry McNoldy, conhecido especialista em furacões da Universidade de Miami, disse que já não tinha mais adjetivos para classificar sua surpresa com Beryl. E que ele havia se formado e intensificado de uma forma que ninguém gostaria de ver que pudesse acontecer.

Foto: Editoria de Arte/O Globo

Beryl foi do estágio de depressão tropical a de um furacão de categoria máxima, a 5, em menos de dois dias. Além disso, nunca um furacão 5 se formou tão cedo na temporada e tão ao sul na Bacia do Atlântico Norte. Normalmente, furacões dessa magnitude se formam mais para o meio da temporada, em setembro, quando as águas do Atlântico já foram bastante aquecidas pelo verão do Hemisfério Norte.

Furacões categoria 5 são enormes sistemas de tempestades, cobrem milhares de quilômetros, com milhões de nuvens e ventos que sopram sem cessar — e, por isso, chamados de sustentados — a velocidades superiores a 200 km/h. Um monstro de categoria 5 produz ventos de 260 km/h durante sua passagem, com rajadas de 300 km/h.

Beryl varreu Granada com seis horas ininterruptas de ventos a 264 km/h. Embora tenha arrasado a Ilha de Carriacou, em Granada, poderia ter causado danos muito maiores caso tivesse atingido áreas densamente povoadas.

Foto: Editoria de Arte


Aquecimento do Oceano Atlântico
O superfuracão é filhote do aquecimento sem precedentes do Oceano Atlântico. Desde 2020, o Atlântico está acima da média de temperatura. E, neste momento, está 3 graus Celsius acima da média. Uma água quente assim seria previsível em setembro, com o mar já aquecido por meses de calor.

Para se ter ideia, o El Niño, que leva o caos ao clima planetário, começa aser caracterizado por 0,5 grau Celsius de elevação. Embora o Pacífico, onde se forma o El Niño, seja muito maior que o Atlântico, a importância deste para o clima das Américas, Europa e África é colossal.

O aquecimento do Atlântico está, por exemplo, entre os fatores associados ao dilúvio catastrófico do Rio Grande do Sul, à seca histórica de 2023 na Amazônia e ao calor praticamente sem trégua em todo o Brasil.

O Atlântico se tornou um caldeirão para fabricar furacões, e Beryl é só um deles. Outro fator de perigo é La Niña. Caracterizada pelo esfriamento anômalo das águas do Pacífico, La Niña reduz as variações de ventos do Atlântico. Ao fazer isso, deixa a atmosfera “organizada” para a formação de furacões.

A Agência de Oceanos e Atmosfera dos EUA (NOAA, na sigla em inglês) diz que há quase 70% de risco de formação de uma La Niña a partir de setembro.

O NHC previu para 2024 o maior número da história de tempestades dignas de receber um nome — isto é, com poder de causar alguma devastação, pois têm ventos superiores a 60 km/h. Elas serão no mínimo 17 e no máximo 25. De 8 a 13 delas devem ser furacões (ventos sustentados acima de 120 km/h), dos quais até sete podem chegar à categoria 3 ou mais alta. O usual é que uma temporada tenha 14 tempestades nomeadas, entre as quais três grandes furacões.

Fonte: O Globo

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