Sintomas de doença podem acometer todo o organismo; conheça a condição

Foto: Shutterstock
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14/06/2024 20:02 | 11 min de leitura


Sem dar detalhes sobre quais problemas está enfrentando, a cantora Halsey, de 29 anos, apareceu em vídeos fazendo tratamentos de saúde. A artista marcou dois perfis de associações em uma publicação no Instagram: uma relacionada à leucemia e outra ao lúpus. No entanto, ela não confirmou qualquer diagnóstico.

Lúpus

O lúpus, ou lúpus eritematoso sistêmico, é uma doença inflamatória crônica de origem autoimune. Ou seja, em que o próprio organismo começa a produzir anticorpos, substâncias que atacam o nosso próprio corpo, em diferentes órgãos e sistemas, explica Edgard Reis, médico reumatologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Conforme o médico, são conhecidos dois tipos de lúpus: o lúpus cutâneo, que se manifesta apenas na pele e não tem manifestação em outros órgãos e sistemas; e o lúpus eritematoso sistêmico, onde outros sistemas além da pele também podem acometidos.

Sintomas

Como o lúpus é uma doença muito heterogênea, ou seja, pode acometer diversos sistemas, os sintomas também vão variar muito de paciente para paciente, uma vez que as manifestações vão variar dependendo do órgão e sistema cometido.

“Existem alguns sintomas que são mais frequentes nas pessoas com lúpus do que os outros, mas não quer dizer que todos os pacientes irão apresentar todos os sintomas”, destaca Edgard.

Segundo o reumatologista, um dos sintomas mais comuns são as lesões de pele, especialmente na região malar, próxima a bochecha, que pioram com a exposição solar. Outros tipos de lesões, especialmente em áreas fotoexpostas (aquelas áreas que recebem exposição solar) também podem acontecer, como, por exemplo, vermelhidão na região do colo, nos braços e nas costas.

A doença também leva ao surgimento de sintomas articulares. Então, o paciente pode apresentar dor nas articulações, que pioram principalmente quando acordam pela manhã. Trata-se de uma sensação de rigidez matinal que geralmente dura mais de 30 minutos, o que é chamado de artralgia inflamatória.

Sinais nos rins, coração, pulmão e sangue

“Outros sintomas também podem acontecer. Por exemplo, quando os anticorpos são dirigidos contra os rins, acontece o que a gente chama de nefrite do lúpus, que pode acontecer em cerca de 40 a 60% dos pacientes com lúpus. Nesses casos, o paciente pode ter alterações na urina. Isto é, urina um pouco mais avermelhada, espumando mais do que o normal, diminuição do volume urinário, inchaço nas pernas e também ao redor dos olhos”, aponta o médico.

Já quanto o lúpus acomete o coração, o paciente pode apresentar dor no peito, dificuldade para respirar e tosse. Da mesma forma, quando tem acometimento dos pulmões, também pode acontecer falta de ar e tosse. “Quando tem acometimento do sistema neurológico (que é mais raro, mas também pode acontecer), há dormência nas extremidades, convulsões, psicose com alucinações visuais e auditivas”, diz Edgard.

“Quando esses anticorpos são dirigidos contra as células do sangue (hemácias) pode acontecer uma anemia, ou mesmo anticorpos dirigidos contra as plaquetas, que são as células da coagulação. Assim, elas caem bastante, causando distúrbios de coagulação e sangramentos”, completa o especialista.

Diagnóstico

Como é uma doença que pode levar a diversos sintomas em diferentes sistemas, a suspeita vem sempre dessas manifestações. “Aquele paciente que apresenta acometimento de múltiplos órgãos e sistemas, é aquele paciente que a gente deve sempre pensar em lúpus”, diz o médico.

Edgard destaca que é uma doença que acomete principalmente mulheres jovens na idade fértil, dos 15 aos 45 anos. Por isso, essas pacientes também levantam a suspeita de lúpus.

“Ou seja, mulheres jovens, manifestações em múltiplos órgãos e sistemas, especialmente manifestações cutâneas, manifestações articulares, e eventualmente renais ou em outros órgãos, a gente deve suspeitar de lúpus”, ressalta o remautologista.

Segundo ele, é muito importante para o diagnóstico da doença o paciente procurar um médico e ter uma boa conversa com o especialista. Assim, é possível realizar chegar ao diagnóstico de maneira mais clara e mais assertiva.

Há cura? Como é o tratamento?

Não há cura pro lúpus, mas há um bom controle e prognóstico para o paciente. “Se o lúpus é uma doença autoimune, ou seja, que existe uma desregulação do sistema imune, o que as medicações tentam fazer é uma supressão dessa resposta imunológica que está desregulada”, explica o profissional.

Medicações como a hidroxicloroquina, por exemplo, tentam regular essa resposta do sistema imune. O uso de medicamentos complementares depende do quadro do paciente e da manifestação da doença.

O primeiro passo para o tratamento, no entanto, é o paciente se educar sobre a condição. “O paciente entender o que é a doença, seu curso, sintomas e história natural é de extrema importância para que o tratamento seja eficaz e que traga os resultados esperados”, destaca o reumatologista.

Além disso, outra medida importante é se proteger da exposição solar. Isso porque a radiação ultravioleta pode ser responsável pela piora da doença, e até mesmo pelo seu surgimento. Nesse sentido, o médico recomenda:

- Usar protetor solar em todas as áreas expostas ao sol;
- Renovar o filtro solar pelo menos quatro vezes ao dia;
- Utilizar chapéu, boné e roupas de proteção ultravioleta;
- Evitar o sol em momentos de pico de exposição solar, ou seja, entre 10 horas da manhã e de 16 horas da tarde, especialmente sem o uso do protetor.

Existe relação entre lúpus e leucemia?

A postagem de Halsey levantou dúvidas sobre uma possível associação entre as duas doenças. No entanto, a literatura médica não relaciona o lúpus com a leucemia, destaca Edgard. “Em algumas situações, dependendo do tipo de leucemia, pode haver até a necessidade de um diagnóstico diferencial. Isso porque o lúpus leva a muitas alterações hematológicas (nas células do sangue). Essas alterações podem ser encontradas, por exemplo, em alguns tipos de leucemia. E aí é importante que o médico, muitas vezes, faça o diagnóstico diferencial entre as duas condições”, diz o especialista.

Além disso, o reumatologista destaca que o risco entre lúpus e alguns tipos de câncer é baixo, em torno de 1,5%. “Os pacientes com lúpus podem ter mais risco de alguns tipos de câncer, como por exemplo o linfoma. Mas essa associação não é especificamente com leucemia, é uma associação rara e a gente tem que lembrar que pode haver a necessidade do diagnóstico diferencial entre as duas situações, porque ambas levam a alterações nas células sanguíneas”, finaliza o profissional.

Fonte: Saúde em Dia

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